CANÇOES E MUSICAS POPULARES
O que fica dito não dá bem a ideia da vida despreocupada desta gente, sempre alegre e divertida. O ganhão canta à frente dos bois, fazendo às vezes coro com o chiar do carro; o pastor canta ou toca o pífano, ao lado do rebanho; as mulheres cantam sempre.
O seu canto desperta de madrugada, espadelando o linho, os que descansam ainda no leito, e torna menos fatigante o trabalho da sacha e monda, da ceifa e outros serviços do campo.
As músicas, ou modas, variam não só segundo o género de trabalho, mas segundo as épocas do ano.
É languida, sonora e sentimental a música das ceifas; violenta, sonora a das massas do linho; compassada, branda e suave a da espadelada, nas madrugadas dos dias de verão.
Toadas características, alegram toda a gente, que tem certa predilecção pela música.
Festeja o povo a Senhora da Póvoa e S. João com canções apropriadas e nas igrejas entoa sempre músicas, ora alegres, ora tristes, sempre impregnadas de sentimento e encantadora poesia.
Pelo Natal e Quaresma a música sacra é executada com sentimento.
Na Quaresma todas as noites os moços, em dois numerosos grupos, cantam o terço, ou encomendam as almas, figurando às vezes também raparigas, cujas vozes produzem em quem as ouve a mais viva impressão, aumentada ainda pelas badaladas do sino, na calada da noite.
Depois, na Páscoa, ouve-se a música da Aleluia, que o povo entoa com entusiasmo, quer nas igrejas, quer nos campos.
Dir-se-á que um povo assim é ainda dominado pela superstição religiosa, mas seria um erro semelhante afirmação, desde que, como vimos, o povo tanto se entusiasma pela música sacra como pelas mais livres e divertidas canções, conquanto seja sincero crente.
FONTE:
TERRAS DE RIBA-CÔA. MEMÓRIAS SOBRE O CONCELHO DO SABUGAL
Joaquim Manuel Correia - Lisboa 1946