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O FORNO DO POVO - O DESAMUAR DO FORNO

Em todas as freguesias há o forno do povo onde os vizinhos cozem o seu pão.

 

Cada vizinho tem obrigação de desamuar o forno, isto é, aquecer ou lançar-lhe o fogo quando lhe pertence, costume que tem razão de ser na dificuldade que há em o aquecer, quando está alguns dias sem cozer e dar por isso mais trabalho e dispêndio de lenha.

A quem pertence desamuar tem de o fazer, embora não tenha precisão de cozer pão, porque pode suceder que se siga a vez de cozer ao vizinho menos abastado e que não tenha lenha bastante.

 

É certo que, apesar de não estar o uso da adua regulado por escrito, todos o observam e é costume ir pôr o sinal- que consiste num molho de lenha - que indica estar tomado o forno.

Em muitas aldeias não há forneiro e por isso todos sabem desempenhar as funções respectivas, tendo os competentes varredouros ou vasculhos de trapo, pá de ferro ou madeira e arranhadouros.

O forno é o albergue onde vão parar os pobres que passam, onde se aquecem e encontram sempre quem lhes dê pão ou bóia e deixe assar batatas no borralho.

 

É também ponto de reunião dos rapazes mais dados à folia.

 

Há noites em que se juntam lá muitos rapazes e raparigas, que se divertem, conversam e cantam. O forno é o lugar de distracção nas aldeias, onde não pode haver clubes.

Todas as filhas dos lavradores sabem amassar e tender o pão, preparar o forno, ou pelo menos dirigir quem o aqueça e meta o pão, o vire, tirando-o depois de cozido.

O pão vai para o forno em tabuleiros largos e fortes, de castanho, que se compram nos mercados, envolto em panais de linho grosseiro, estopa.

 

Cada pão costuma pesar cinco ou seis arráteis e cada fornada consta sempre de muitos alqueires de centeio, que chega para oito ou quinze dias.

Os tabuleiros são transportados pelas mulheres, assim como geralmente o combustível, giestas, lenha de freixo, amieiro e carvalho, quando os homens não têm vagar.

Em todas as aldeias existe o costume de pedir pão emprestado, que se paga logo que a fornada entra em casa.

 

Este costume entre bons vizinhos dá bem a ideia da amizade que geralmente reina nas aldeias, costume que aproveita a quem pede o pão que precisa e a quem o empresta e depois o recebe fresco.

FONTE:

TERRAS DE RIBA-CÔA. MEMÓRIAS SOBRE O CONCELHO DO SABUGAL

Joaquim Manuel Correia - Lisboa 1946

Aldeia de Rendo., criado com Wix.com

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