O VESTUARIO
Já vimos que era insignificante, mesmo rudimentar o mobiliário do povo do Sabugal. Modesto e simples é também o vestuário, especialmente do homem e na mor parte das aldeias.
Nas povoações próximas da Espanha o vestuário ressente-se dos costumes espanhóis, principalmente nas mulheres, que usam cores garridas e penteados semelhantes às de Espanha. ..
Não vai longe o tempo em que a mulher usava roupinhas e saia de pano, ordinariamente azul, meias brancas e chinela preta, mantilha preta, curta, lenço de seda na cabeça, cobrindo parte da marrafa.
Era o trajo das aldeãs mais ricas, também usado pelas mais pobres, com a diferença da qualidade do pano.
Mas nos dias de semana sobre a saia forte de pano caseiro, atava-se a cinta de grosso pano e sobre as roupinhas nunca faltava o lenço dos ombros de grandes ramagens.
Ainda existem as mantilhas grandes, como relíquias doutras eras, usadas por mulheres doutros tempos nos dias santificados. '
Agora vai desaparecendo a mantilha redonda e poucas mulheres conhecem já a mantilha grande e as roupinhas de pano azul.
Os xailes, as chitas, os merinos e até as sedas vão substituindo as antigas fazendas na mor parte das freguesias. O luxo invadiu as aldeias, os bufarinheiros vendem já os melhores artigos da moda; mas não desapareceram por completo os antigos trajos, especialmente em Quadrazais, Souto, Malcata, Vale de Espinho e Foios.
Os homens têm resistido mais às tentações da moda, mas são raros já o calção e polaina de saragoça e o casaco de gola levantada, colarinhos altos de linho, dobrados e de peitilhos bordados e colete de pano azul que ainda se observam em Aldeia Velha, Quadrazais, Souto e Vale de Espinho, substituídos pela calça larga e jaqueta curta, de saragoça e colete moderno, de bom pano.
As fábricas de chapéus, barateando estes, vão acabando com os grosseiros chapéus de lã, fabricados em Pousafoles.
Nas aldeias aparece já o janota, que escolhe o figurino e não faltam alfaiates que parodiem os artistas de fama, para satisfazerem os fregueses exigentes.
Mas o trajo ordinário é a jaqueta (a véstia) e calça de saragoça (pantalonas), o capote de burel, sapatos fortes, brochados, e no inverno grossos tamancos com grossas chapas de ferro.
As camisas são de linho e poucos usam ceroulas e meias, salvo nos dias festivos.
O vestuário do povo é grosseiro e geralmente mal confeccionado, dando um aspecto rude e desagradável aos homens, sempre de barba feita, caras de padres ou actores; mas nos últimos tempos já não é raro ver homens de bigode, o que outrora poucas vezes sucedia.
Os rapazes que acabavam o serviço militar cortavam logo o bigode para não serem ridicularizados; hoje tal ridículo desapareceu já.
FONTE:
TERRAS DE RIBA-CÔA. MEMÓRIAS SOBRE O CONCELHO DO SABUGAL
Joaquim Manuel Correia - Lisboa 1946