Descrição dos locais da nossa freguesia
RENDO (1354 identificada como Reimundo, em 1527 identificada como Ryemdo)
" Efectivamente o seu aspecto é rude, no conjunto de casas tôscas e denegridas, onde a cal não teve de intervir com seus efeitos higiénicos e aformoseadores; mas aquele ár primitivo de casebres acastelados, assentes em rochedos, entre quintais mimosos e hortas arborizadas, com aros de frescas latadas verdejantes, fazendo contraste com a sua alvinitente e espaçosa igreja, a destacar-se na orla da estrada, dão-lhe um não sei quê de grave e pitoresco.
Fica seis quilómetros a nordeste do Sabugal, na margem direita do Côa, de que dista uns dois quilómetros.
É uma das povoações mais antigas do concelho, mas tão refractária tem sido aos progressos que, como vimos, o seu aspecto é rude, as casas singelas e tôscas, com raras excepções.
Apesar do seu clima ser bastante frio, é terra abundante em todos os produtos próprios do concelho, especialmente centeio, cevada, trigo, batatas e legumes.
Tem grandes soutos de castanheiros a sudeste, havendo alguns de proporções colossais, muitas vezes seculares, e muitos carvalhos e árvores frutíferas, entre outras o mostajeiro.
São extensos os limites de Rendo e em todos eles há belíssimas pastagens, prados naturais e lameiros, onde apascentam seus gados os vizinhos.
FONTE: TERRAS DE RIBA-CÔA. MEMÓRIAS SOBRE O CONCELHO DO SABUGAL Joaquim Manuel Correia Lisboa 1946
FOLHA DA TORRE
Fica a Nordeste da povoação este imenso tracto de terreno de logradouro comum, que de três em três anos costuma ser dividido por todos os vizinhos para cultura de centeio, ficando nos dois restantes de pousío, e então aproveitado para todos nele apascentarem seus gados.
Consta que a Fôlha da Tôrre era foreira e isso ouvimos há poucos anos a um dos coherdeiros dos últimos senhorios directos, o sr. Júlio Couceiro, proprietário em Lisboa; mas sendo demandados judicialmente e não prosseguindo a questão; porque a povoação se amotinou e os autores intimidaram-se, pois que um oficial de diligências teria sido vítima se não consegue esconder-se, não pagaram os foros um período excedente a trinta anos.
Junto da Lameira da Tôrre existe uma ermida, da invocação da Senhora da Tôrre, que esteve longos anos profanada e sem telhado; mas, sendo restaurada, ali se realisa todos os anos uma festa.
Perto desta ermida há um outeiro, coberto de enormes rochedos graníticos, coroado por formidável paralelepípedo que se destaca e avista mais que os restantes rochedos. Talvez sobre ele houvesse alguma tôsca tôrre ou atalaia que desse o nome ao sítio.
Na base deste outeiro há restos de habitações antigas e abundantes telhas e tijolos.
IGREJA PAROQUIAL
Na orla da estrada principal que liga o Sabugal a Rendo e Vila Boa e que deve continuar até Alfaiates e Aldeia da Ponte, fica a igreja paroquial, uma das mais amplas e bem ornadas do concelho, onde, entre outras imagens, se venera a do orago da freguesia, que é S. Sebastião.
Diz-se em Rendo que o arquitecto da igreja foi assassinado ali pelos parentes duma donzela a quem ele seduzira ou pelo menos difamara, negando-se depois a desposá-Ia.
No adro da igreja é o cemitério paroquial, o que é pouco de louvar, não só por ficar contíguo à estrada, mas por ter de ser atravessado pelos vizinhos quando vão à igreja.
Vímos em corografias antigas que tinha em 1757 apenas 188 fogos mas no Districto e Diocese da Guarda diz-se que no fim do século XVII tinha 110 e 440 almas. Será fácil explicar a diferença atribuindo-se esta população só à povoação de Rendo, não incluindo os outros lugares.
Em 1889 tinha 315 fogos juntamente com os lugares que lhe pertencem; mas na obra citada vê-se que tem 241 fogos e 888 almas. No meio da povoação existe uma capela da invocação de Santo António, que está muito decente. Perto fica a casa da escola, feita à custa dá freguesia há poucos anos. A escola é já antiga.
A população de Rendo é muito dispersa, constando de Rendo propriamente dito, Lamelas, que tinha em 1889 apenas 7 fogos,
Palhais, do lado oriental da povoação, que tem uma ermida, e, além destas, Pouca Farinha e Cardeal.
FONTE: TERRAS DE RIBA-CÔA. MEMÓRIAS SOBRE O CONCELHO DO SABUGAL Joaquim Manuel Correia Lisboa 1946
POUCA FARINHA
É uma pitoresca e mimosa povoação, banhada por uma ribeira que nasce perto da Tôrre, povoação pertencente à freguesia do Sabugal e próxima do Ozendo.
Fica na margem esquerda dessa ribeira, a que se junta a ribeira da Morganheira, tomando os nomes de Pouca Farinha e Palhais, juntando-se-lhe depois o abundante ribeiro do Freixal, que limita a Fôlha da Torre e desagúa no Côa, junto de Caria Atalaia.
Pouca Farinha tem ao centro uma igreja decentemente ornada, da invocação do Divino Espírito Santo. A sua população é de 30 fogos.
FONTE: TERRAS DE RIBA-CÔA. MEMÓRIAS SOBRE O CONCELHO DO SABUGAL Joaquim Manuel Correia Lisboa 1946
CARDEAL (em 1527 identificada como: Quinta das Casas do Cardeal)
A três quilómetros, aproximadamente, de Rendo, ao sul duma encosta muito abrigada, fica o Cardeal, povoação que tem 56 fogos e que denota ser muito antiga, tendo até um reduto.
Perto do Cardeal diz-se ter existido uma povoação, naturalmente um castro, como se depreende do sugestivo nome Acampamento dos Mouros, que alguns lhe dão ainda, situada num elevado e pedregoso outeiro, a nascente da povoação actual.
Diz-se que o nome de Cardeal derivou do facto de ali haver muitos cardos, mas a lenda não se contenta com tal explicação e ainda lhe dá outra.
FONTE: TERRAS DE RIBA-CÔA. MEMÓRIAS SOBRE O CONCELHO DO SABUGAL Joaquim Manuel Correia Lisboa 1946